Um dos
desafios atuais da área de saúde no Pará é o combate ao mosquito Aedes aegypti
causador da dengue. Autoridades municipais e estaduais têm alertado a população
sobre a propagação rápida da doença que colocou ao menos dez municípios do
Estado em zona vermelha de alerta: Belém, Itaituba, Altamira, São João do
Araguaia, Trairão, Vitória do Xingu, Alenquer, Novo Repartimento, Redenção e
Santarém.
Ao
mesmo tempo, pesquisas recentes indicam que o desmatamento tem contribuído para
a proliferação do Aedes, entre outros causadores de doenças infecciosas.
O
estudo de cientistas da Universidade Estadual Paulista (Unesp), por exemplo,
publicado na revista científica “PLOS”, demonstra que o avanço da destruição do
Cerrado está diretamente ligado ao aumento do número de casos de dengue na
região. O trabalho mostra que, se o ritmo do desmatamento continuar semelhante
ao atual, em 2030 toda a área do Cerrado terá um aumento considerável dos casos
da doença.
Apesar
de o estudo focar em outro bioma que não o amazônico, outras pesquisas apontam
para o mesmo caminho, o de que as mudanças climáticas estão criando condições
ideais para a transmissão de doenças infecciosas, potencialmente desfazendo
décadas de progresso no controle de doenças como dengue, chikungunya, zika,
malária e cólera.
O
relatório do projeto Lancet Countdown, associado à prestigiosa revista
científica Lancet, representa o consenso dos principais pesquisadores de 38
instituições acadêmicas e agências da ONU. Os 44 indicadores no relatório de
2021 expõem um aumento crescente dos problemas de saúde causados pela mudança
climática:
O
potencial para surtos de dengue, chikungunya e zika está aumentando mais
rapidamente em países com um índice de desenvolvimento humano muito alto,
incluindo países europeus. A suscetibilidade a infecções de malária está
aumentando em áreas montanhosas mais frias de países com baixo índice de
desenvolvimento humano. As praias ao redor do norte da Europa e dos Estados
Unidos estão se tornando mais propícias à proliferação de bactérias causadoras
de gastroenterite, infecções graves em feridas e sepse. Em países com recursos
limitados, a mesma dinâmica está colocando em risco décadas de progresso no
controle ou eliminação dessas doenças.
Há
569,6 milhões de pessoas vivendo a menos de 5 metros acima do nível do mar, que
podem enfrentar riscos cada vez maiores de inundações, tempestades mais
intensas e salinização do solo e da água. Muitas dessas pessoas podem ser
obrigadas a deixar permanentemente essas áreas e migrar para o interior.
Esses
riscos agravam os perigos à saúde que muitos já enfrentam, especialmente em
comunidades expostas a condições de insegurança hídrica e alimentar, ondas de
calor e disseminação de doenças infecciosas.
Em
nível global, em 2020, adultos com mais de 65 anos foram afetados por 3,1
bilhões de dias a mais de exposição a ondas de calor do que na média da linha
de base de 1986-2005. Idosos da China, Índia, Estados Unidos, Japão e Indonésia
foram os mais afetados.
Enquanto
os países injetam trilhões de dólares para recuperar suas economias em meio à
pandemia da covid-19, o relatório da “Lancet” exorta líderes políticos e
formuladores de políticas a usarem esse gasto público para reduzir as
desigualdades. Promover uma recuperação verde, gerando novos empregos
ambientalmente sustentáveis e protegendo a saúde, ajudará a criar populações
mais saudáveis agora e no futuro.
Altamira
Claudio
Cabreira, representante da vigilância de endemias de Altamira, reforçou à TV
Globo, em reportagem desta semana, que 3 bairros do município registraram 100%
de focos do mosquito da dengue, em novembro do ano passado. Já em relação à
totalidade dos bairros, a cada 10 casas inspecionadas, 2 apresentaram registro
do mosquito da dengue.
Em
2021, o Pará registrou aumento nos casos de adoecimento pelo vírus da dengue.
Chikungunya, zika e até um caso de febre mayaro também foram registrados em
2021. Pesquisas recentes indicam que o famoso mosquito da dengue também pode
ser o responsável pela transmissão de mayaro.
Dos
mais de 4893 casos confirmados de dengue, em 2021, no Pará, um veio a óbito. O
Estado ainda registrou 257 casos de chikungunya, e 50 de zika no período. Para
essas duas arboviroses a taxa de contágio reduziu quando comparada a 2020.
Regiões
que registraram recentemente excesso de chuva ou inundações precisam de
cuidados redobrados. Os ovos do Aedes aegypti, mesmo que eles estejam no frasco
sem água, podem ficar até quase um ano viáveis. E quando chega o período da
chuva, eles vão entrar em contato com a água e, de cinco a sete dias, esse
mosquito, que passou um ano adormecido dentro desse ovo, vai nascer novamente,
alerta Cassio Peterka, da Coordenação-Geral de Vigilância de Arboviroses do
Ministério da Saúde.
“A
atenção tem que ser muito mais redobrada no momento em que as inundações estão
baixando, quando a gente tem aumento do número de criadouros e que isso
facilitaria a proliferação do vetor. Então, a ideia é aliar nossas ações
rotineiras e em momentos onde haja desastres, onde haja um aumento muito grande
das chuvas, a gente tenha uma atenção redobrada”,
esclarece Cassio.
Brasil
Em
2020, houve em todo o mundo 2,7 milhões de casos de dengue. Desse total, 36,5%
foram no Brasil. Mais da metade deles foi registrada no Cerrado. De 2008 a
2019, a dengue matou 6,4 mil pessoas em território brasileiro.
O
avanço do Aedes aegypti em áreas tropicais é relacionado à urbanização,
sobretudo em cidades sem infraestrutura de saneamento básico. A perda do
habitat e a redução de predadores naturais “empurra” o inseto para áreas
urbanizadas, espalhando a dengue.
Fonte:
Pará Terra Boa / The Lancet, Secretaria de Estado da Saúde, com Brasil 61 - Fotos ilustrativas extraídas do Google.